Tabela 1: ITE/FACAMP mensal (variação em %)
Comparações | Novembro/2020 | Dezembro/2020 |
Mês anterior (com ajuste sazonal) | -0,7 | 4,3 |
Média Móvel Trimestral[1] | 3,6 | 1,5 |
Mesmo mês 2019 | 4,2 | 11,7 |
Acumulado 12 meses | -1,9 | -0,8 |
Fonte: Elaboração NEC/FACAMP a partir dos dados da CCEE
Tabela 2: ITE/FACAMP trimestral (variação em %)
Comparações | 3ºTRI/2020 | 4ºTRI/2020 |
Trimestre anterior (média móvel trimestral) | 6,8 | 6,9 |
Mesmo trimestre de 2019 | 1,9 | 6,6 |
Acumulado 12 meses | -3,9 | -1,3 |
Fonte: Elaboração NEC/FACAMP a partir dos dados da CCEE
O Índice de Tendência Econômica da FACAMP (ITE/FACAMP)[2] cresceu 4,3% em dezembro em relação a novembro, já descontados os efeitos sazonais, e 11,7% em comparação ao mesmo mês de 2019 (Tabela 1). Com o resultado de dezembro, a média móvel trimestral – que é um bom indicador da tendência de curto prazo – anotou expansão de 1,5% na passagem de novembro para dezembro.
O bom desempenho se contrapõe ao resultado negativo de novembro e acompanha o crescimento da produção industrial, em especial da metalurgia e da extração de minerais metálicos. Em bases trimestrais (Tabela 2), o índice também anotou alta na comparação marginal (+6,9% em relação ao trimestre anterior), repetindo o bom desempenho do terceiro trimestre. Ainda em bases trimestrais, também merece destaque o desempenho positivo em relação ao quarto trimestre de 2019 (+6,6%).
A rápida recuperação da economia num cenário de restrições impostas pela pandemia provocou um crescimento desbalanceado entre os setores de atividade. Por um lado, a injeção de renda oriunda do auxílio emergencial impulsionou alguns segmentos do varejo e a indústria já a partir do segundo trimestre. Por outro lado, o setor de serviços, que representa quase 75% do PIB, foi muito mais afetado pelas medidas de distanciamento social decorrentes da pandemia e teve queda recorde em 2020 (-7,8% no ano).
Ainda quanto ao setor industrial, vale ressaltar que sua contínua recuperação a partir de maio não evitou uma queda da produção de 4,5% no acumulado do ano, queda puxada pelo forte recuo em março e abril. Convém frisar ainda a respeito da indústria que, sob um enfoque mais estrutural, o setor segue abalado pelas fragilidades decorrentes do longo processo de desindustrialização, o que pode ser facilmente atestado pelo fato de que, atualmente, a produção industrial se situa num patamar 13% inferior ao verificado em 2011, ou seja, há 10 anos. A combinação de todos esses fatores indica, portanto, que eventos recentes como a desvalorização cambial, os juros mais baixos, o auxílio emergencial e as dificuldades logísticas para recomposição de estoques possuem influência significativa no curto prazo.
Segundo o professor Rodrigo Sabbatini do NEC/FACAMP, “o comportamento do ITE no mês acompanha também um movimento natural de recomposição de estoques da indústria, que, é bom lembrar, teve dificuldades para responder a recuperação rápida da demanda no segundo semestre”.
Essa interpretação ganha mais força quando consideramos também o impacto positivo da alta dos preços das commodities sobre a rentabilidade das exportações e a aceleração da demanda chinesa sobre a produção nacional, especialmente nos setores de metalurgia e extração de minerais metálicos. A combinação do crescimento do preço do minério de ferro (13% entre o terceiro e o quarto trimestre, de acordo com o FMI) com o crescimento da demanda interna (no caso da metalurgia) e externa (principalmente chinesa) explica o desempenho positivo desses setores em dezembro.
No entanto, a continuidade do crescimento do ITE será posta à prova em 2021. “A recomposição dos estoques pode esbarrar nas incertezas em relação à continuidade da recuperação econômica em 2021. Essas incertezas se acentuam com a interrupção do auxílio emergencial a partir de janeiro, a reversão na recuperação do varejo ampliado (já verificada no final de 2020, de acordo com o IBGE) e o desempenho tímido do mercado de trabalho”, complementa a professora Juliana Filleti do NEC/FACAMP.
Portanto, a renovação das medidas emergenciais, a recuperação mais efetiva do emprego e da renda, o ritmo de vacinação, a evolução da demanda chinesa e comportamento dos preços das commodities e o câmbio serão termômetros importantes nos próximos meses.
[1] A média móvel trimestral avalia o resultado da variação do último trimestre móvel, ou seja, compara a média dos últimos três meses, incluindo o mês atual, com a média dos três meses anteriores ao mês corrente. Por considerar a média do último trimestre móvel, seu resultado acaba sendo mais suave e capaz de captar uma tendência menos volátil da série a analisada.
[2] O ITE/FACAMP é calculado a partir do consumo de energia tomando informações públicas disponibilizadas pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). O ITE possui um coeficiente de correlação de Pearson (r) de 0,88 ante o IBC-br do Banco Central em dezembro de 2020. Em relação ao PIB, o coeficiente de correlação é de 0,85 em dezembro de 2020. Para mais detalhes sobre a metodologia do ITE/FACAMP, veja https://www.facamp.com.br/ite-facamp/