Os dados do mercado de trabalho brasileiro devem ser acompanhados com especial atenção nos meses que seguem para entender os impactos da COVID-19. O impacto do isolamento social nos fluxos econômicos deve ser de grande proporção, afetando fortemente o mercado de trabalho, assim como a importante dificuldade de coleta de dados pelo IBGE trará um cuidado especial com a análise dos resultados.
O grande destaque da PNADC mensal de março de 2020 foi o número de pessoas que “saíram” das estatísticas do mercado de trabalho. Foram 979 mil pessoas que deixaram a Força de Trabalho em relação ao trimestre findo no mês imediatamente anterior (fevereiro de 2020). Para reforçar a importância deste número, a pior evolução mensal vista desta estatística, desde 2014 (ano de referência antes da crise e estagnação no mercado de trabalho brasileiro), foi a do trimestre findo em setembro de 2016, quando 297 mil pessoas haviam saído da Força de Trabalho em relação ao levantamento do mês anterior.
Nos dados da Força de Trabalho verifica-se que houve um fechamento de perto de 1,5 milhão de vagas, e um crescimento de 0,5 milhão de pessoas desempregadas. Ou seja, a pequena elevação da taxa de desemprego, de 11,6% em fevereiro, para 12,3% em março de 2020, esconde 1 milhão de brasileiros que não se declaram mais como ocupados ou desocupados, face a anomalia do momento. Em busca da qualificação deste 1 milhão de brasileiros, verifica-se a elevação de 347 mil pessoas na Força de trabalho potencial[1] e de 77 mil pessoas Desalentadas – de forma que perto de 425 mil pessoas que saíram da Força de Trabalho, ainda mantiveram alguma conexão com o mundo laboral.
A queda da ocupação, por posição, ocorreu de forma generalizada – sendo exceção o emprego no setor público, que cresceu por provável contratação na área da saúde, e nos Conta Própria com CNPJ, que deve configurar uma informalização indireta. Das vagas destruídas, 81% (1,2 milhões de pessoas) eram informais[2] e trabalhadores familiares auxiliares. Comparando o fluxo ao estoque de vagas apontado no trimestre de dezembro de 2019 a fevereiro de 2020, houve uma regressão de 3,0% das vagas informais e de 0,5% das formais. Ou seja, os números desta crise, em certa proporção exógena, refletem a consideração de que a melhora quantitativa das estatísticas do mercado de trabalho brasileiro, observada nos últimos anos, carregava a importante fragilidade da crescente informalização das relações trabalhistas.
Gráficos e Tabelas
Fonte: IBGE
Elaboração: Centro de Pesquisas Econômicas da FACAMP
Tabela 1. Variação na ocupação (em 1000 pessoas), por posição na ocupação. Trimestre composto pelos meses de dezembro a fevereiro e de janeiro a março de 2010.
Gráfico 1. Taxa de desemprego, Taxa composta de subutilização da força de trabalho* e Percentual das pessoas desalentadas (eixo direito)
[1] Estatística que reúne pessoas em idade de trabalhar, fora da Força de trabalho – ou porque procuraram trabalho mas não poderiam trabalhar na semana de referência, ou porque não procuraram trabalho, mas gostariam de ter um.
[2] Empregos sem carteira assinada ou empresas e prestadores de serviços sem CNPJ.
Expediente
FACAMP explica: PNAD-C é uma publicação mensal do Centro de Pesquisas Econômicas da FACAMP que repercute os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Mensal, do IBGE.
FACAMP é uma faculdade privada fundada em 2000 por João Manuel Cardoso de Mello, Liana Aureliano, Luiz Gonzaga de Melo Belluzzo e Eduardo Rocha Azevedo. Com 100% de Mestres e Doutores, seu curso de Economia recebeu 5 estrelas do Guia do Estudante.
Centro de Pesquisas Econômicas da FACAMP
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Pesquisadores
Adriana Marques da Cunha, Beatriz Freire Bertasso, Bento Maia, Fernanda Serralha, Jackeline Bertuolo, José Augusto Ruas, Juliana Filleti, Ricardo Buratini, Rodrigo Sabbatini, Saulo Abouchedid e Thiago Dallaverde
Assistentes de Pesquisa
Felipe Silva e Nathan Caixeta