Os dados do mercado de trabalho brasileiro devem ser acompanhados com especial atenção nos meses que seguem. O impacto do isolamento social nos fluxos econômicos deve ser de grande proporção, afetando fortemente a demografia do mercado de trabalho, assim como a importante dificuldade de coleta de dados pelo IBGE trará um cuidado especial com a análise dos resultados.
Assim como em março, o grande destaque da PNADC mensal de abril de 2020 foi o número de pessoas que “saíram” das estatísticas do mercado de trabalho. Foram mais de 3 milhões pessoas que deixaram a Força de Trabalho em relação ao trimestre móvel imediatamente anterior (março de 2020). Para reforçar a importância deste número, a pior evolução mensal vista desta estatística, desde 2014 (ano de referência antes da crise e estagnação no mercado de trabalho brasileiro), foi a do trimestre findo em setembro de 2016, quando 297 mil pessoas haviam saído da Força de Trabalho em relação ao levantamento do mês anterior.
O detalhamento dos dados sobre a força de trabalho desvenda ainda as causas do avanço tímido na taxa de desemprego. Conforme a PNADC, verifica-se que houve um fechamento de perto de 2,98 milhões de vagas, e um crescimento de 39 mil pessoas desempregadas. Ou seja, a pequena elevação da taxa de desemprego, de 12,2% em março, para 12,3% em abril de 2020, esconde quase 3 milhões de brasileiros que não se declaram mais como ocupados ou desocupados, face a anomalia do momento. Em busca da qualificação destes 3 milhões de brasileiros, verifica-se a elevação de 1.46 milhões pessoas na Força de trabalho potencial[1] e de 256 mil pessoas Desalentadas – de forma que perto de 1.72 milhões de pessoas que saíram da Força de Trabalho ainda mantiveram alguma conexão com o mundo laboral.
A queda da ocupação, por posição, ocorreu de forma generalizada – sendo exceção o emprego no setor público, que cresceu por provável contratação na área da saúde, e nos Conta Própria com CNPJ, que deve configurar uma informalização indireta. Das vagas destruídas, 69% (pouco mais de 2 milhões de pessoas) eram informais[2]. Assim, os números desta crise, em certa proporção exógena, refletem a consideração de que a melhora quantitativa das estatísticas do mercado de trabalho brasileiro, observada nos últimos anos, carregava a importante fragilidade da crescente informalização das relações trabalhistas. Reforçando este argumento, a queda na massa de rendimentos habitualmente recebida pelos ocupados, em relação a abril de 2019, se concentrou no setor informal (empregados sem carteira, conta-própria e empregadores sem CNPJ) com a relativa estabilidade do segmento formal.
Gráficos e Tabelas
Fonte: IBGE
Elaboração: Centro de Pesquisas Econômicas da FACAMP
Saulo Abouchedid
Beatriz Freire Bertasso
[1] Estatística que reúne pessoas em idade de trabalhar, fora da Força de trabalho – ou porque procuraram trabalho mas não poderiam trabalhar na semana de referência, ou porque não procuraram trabalho, mas gostariam de ter um.
[2] Empregos sem carteira assinada ou empresas e prestadores de serviços sem CNPJ.
Expediente
FACAMP explica: PNAD-C é uma publicação mensal do Centro de Pesquisas Econômicas da FACAMP que repercute os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Mensal, do IBGE.
FACAMP é uma faculdade privada fundada em 2000 por João Manuel Cardoso de Mello, Liana Aureliano, Luiz Gonzaga de Melo Belluzzo e Eduardo Rocha Azevedo. Com 100% de Mestres e Doutores, seu curso de Economia recebeu 5 estrelas do Guia do Estudante.
Centro de Pesquisas Econômicas da FACAMP
Pesquisadores
Adriana Marques da Cunha, Beatriz Freire Bertasso, Bento Maia, Fernanda Serralha, Jackeline Bertuolo, José Augusto Ruas, Juliana Filleti, Ricardo Buratini, Rodrigo Sabbatini, Saulo Abouchedid e Thiago Dallaverde
Assistentes de Pesquisa
Nathan Caixeta