A produção industrial de dezembro avançou 0,9% em relação ao mês anterior (já descontada a sazonalidade), contribuindo para uma queda menos expressiva da indústria em 2020 (-4,5% em relação a 2019). Embora o resultado perfaça a oitava alta consecutiva, a trajetória de desaceleração preocupa para 2021. Os efeitos das medidas emergenciais perderam força no quarto trimestre, com a redução do auxílio emergencial, o aumento da incerteza dos empresários em relação à demanda no médio e longo prazo e a escassez de matéria-prima, que dificultou o crescimento da produção.
A diminuição do auxílio emergencial, a queda nas taxas de isolamento social e o avanço na inflação contribuíram para o desempenho negativo nos últimos meses de setores fundamentais para a retomada da indústria, em especial alimentação (-4,4% na margem em dezembro) e bebidas (-8,1% em dezembro). Assim, o fim do auxílio emergencial dificulta ainda mais o cenário para 2021, especialmente para o setor de semiduráveis e não duráveis. A incerteza em relação à continuidade da recuperação de setores protagonistas no segundo semestre de 2020 pode afetar também a indústria de máquinas e equipamentos, que, de acordo com a ABIMAQ, se beneficiou com o crescimento do mercado interno (especialmente nos setores de madeira, alimentos e refrigeração).
Por outro lado, a recuperação nos últimos meses de setores duramente afetados pela crise sanitária, como o setor têxtil (15,4% em dezembro) e o setor automotivo (+6,5% em dezembro), pode fornecer algum alívio para a indústria em 2021, a depender do ritmo da vacinação e, consequentemente, da atenuação da crise sanitária. O setor externo também pode ser fonte de dinamismo, especialmente para indústria extrativa, com o dólar mais fraco e o crescimento da demanda externa (especialmente China).
Portanto, ainda faltam fundamentos sólidos para atestar a continuidade da recuperação da indústria e do investimento em 2021, por conta da incerteza em relação aos fatores dinâmicos que estimularão a atividade econômica no curto e médio prazo. Ademais, o aumento de preço dos insumos industriais – explicado em parte pela desvalorização cambial – e as dificuldades logísticas em algumas cadeias comprometem a rentabilidade e as expectativas de demanda do setor. Neste contexto, a prorrogação das medidas emergenciais de combate a crise e a diminuição da pressão de preços e da escassez em setores-chave da indústria serão os termômetros para a recuperação nos próximos meses. Por fim, não devemos esquecer que a quebra de importantes elos das cadeias produtivas internas ainda representa o maior o obstáculo estrutural para a retomada sustentável da atividade industrial no país. O esvaziamento do tecido industrial, em curso desde os anos 1990, implica na perda de competitividade estrutural de importantes segmentos industriais, o que, por sua vez, dificulta ainda mais a recuperação do setor em momentos de elevada incerteza.
Gráficos e Tabelas
Fonte: IBGE
Elaboração: Centro de Pesquisas Econômicas da FACAMP
Brasil: Evolução da PIM-PF em % | ||
Dezembro 2020 em relação a Dezembro de 2019 | Dezembro 2020 em relação a Novembro de 2020 | Variação percentual acumulada no ano (Base: igual período do ano anterior) |
8,2 | 0,9 | -4,5 |
Saulo Abouchedid
Expediente
FACAMP é uma faculdade privada com espírito público fundada em 2000 por João Manuel Cardoso de Mello, Liana Aureliano, Luiz Gonzaga de Melo Belluzzo e Eduardo Rocha Azevedo. Com 100% de Mestres e Doutores, seu curso de Economia recebeu 5 estrelas do Guia do Estudante.
Núcleo de Estudos de Conjuntura da FACAMP
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nec@facamp.com.br
Pesquisadores
Adriana Marques da Cunha, Beatriz Freire Bertasso, Bento Maia, Camila Veneo, Fernanda Serralha, José Augusto Ruas, Juliana Filleti, Nathan Caixeta, Ricardo Buratini, Rodrigo Sabbatini, Saulo Abouchedid e Thiago Dallaverde
Assistentes de Pesquisa
Thais Trombetta
Jaques Gabriel Guedes Videla
Editoração e Capa
Renata Job Zani